quarta-feira, 6 de abril de 2016

#94 -

Com o passar do tempo, fui ficando mal acostumado.

Todo mercado tem que ter caixa livre,
Toda rua tem que ter numeração correta,
Todo estabelecimento tem que ter w-fi,
Todo bar tem que ter um garçom que eu conheça pelo nome,
E todo lugar tem que ter você.

#93 -

Você me apareceu como um sopro num dia quente de verão, daqueles que tocam a pele assim que você chega em casa e senta na varanda pra ver o sol se por depois de um dia cansativo.

Naquele momento, era tudo que eu precisava.

E continuou acariciando delicadamente meu rosto, me deixando cada vez mais confortável e me fazendo esquecer dos problemas lá fora desse apartamento, que costumo fazer questão de convidar pra entrar.

Até que se tornou uma chuva tropical. Daquelas sem aviso, rápidas e intensas, que alaga ruas e faz barrancos virem abaixo. Assim como fez comigo.

Mas já é outono a nove dias, amor.
E nossa história ficou pra trás.

#92 -

Oi.
Ta tudo tão difícil aqui.
Ficou meio preto e branco, depois daquele seu tão claro ponto final.

Tô passando por uma barra por esses dias, e só queria um pouco do teu sorriso, e do que ele faz comigo.
Queria recostar no teu peito e me sentir segura, e que você me fizesse enxergar mais rápido que isso tudo vai passar.

E fico pensando no porquê de não ter te tido mais perto. Ter te mantido aqui, sempre do meu lado. Por vezes sei que sou meio truculenta, e também o quanto não é fácil pra mim demonstrar amor.
Mas juro que em muitos dias eu sabia que você era o cara certo pra mim. Como hoje, por exemplo.

Mas acima de tudo, queria te desrespeitar. Esquecer que concordei com sua loucura de não te procurar mais. Ir de surpresa e bater na porta da sua casa que só conheci por fotos. E se você não estiver, rodar a cidade até te encontrar e dizer que errei bastante e vou continuar errado. Mas se você topar, quero errar junto com você.

Mas me falta coragem. Coragem de me abrir. Coragem de arriscar me magoar. Coragem de arriscar te magoar...

Entao me contento em escrever, e talvez crer que por algum sexto, setimo ou oitavo sentido voce esteja ai, sabendo exatamente o que estou sentindo aqui. E sei que depois disso tudo vou amassar esse papel molhado de lágrimas, matar essa garrafa de vinho e amanhã acordar forte como só eu consigo fingir ser.