domingo, 8 de maio de 2016

#97

Seja doce, daquelas que faz meu sorriso abrir e minha cabeça maquinar em planos de uma vida feliz pra nós dois.

Seja forte, daquelas que trabalha de dia, estuda a noite, e ainda encontra motivos pra ser feliz, e me fazer feliz.

Seja independente, daquelas que vai com os amigos pra mesa do bar e não faz esforço algum pra conter um palavrão.

Seja até cruel.

Mas por favor, não seja desinteressante.

# 96

"Ela mudou com o tempo.

Tinha ficado mais madura, e dura consigo e com a vida.
Já não tinha tempo a perder no auge dos seus vinte e bem poucos anos.
Era tudo ou nada. E queria tudo. E queria pra já.
Não media esforços pra alcançar o sucesso, e essa característica despertou nele um interesse fora do comum.

Mas tinha que admitir. Desde a primeira vez que viu aquela loirinha de sorriso fácil e sotaque diferente, sabia que ela era problema."

# 95

O tempo é ouro.

E ele descobriu isso depois de muitas indas, vindas e incertezas sobre o porque daquilo tudo.

Não era de hoje que lembrava daquela garota. Se conhecerem ainda pirralhos, na terceira ou quarta série. Enquanto ele chegava numa cidade nova, tendo de se adaptar a tudo, ela fazia o caminho contrário, e ia de encontro a outro estado devido ao trabalho dos pais. Só tiveram duas semanas de convivência na escola, que serviu apenas para deixar uma foto registrada, do evento de dia das crianças.

Alguns bons anos depois, se encontraram de novo, quando ela foi visitar uns parentes na cidade. Coincidência ou não, ele tinha se tornado um bom amigo de um dos primos dela, e acabaram por passar uns dias juntos em algum período de janeiro. Ela, já era uma moça feita, que arrancava olhares por onde passava e partia corações de quem ficava encantado com seu jeito tão solto. Ele, rapaz responsável, dividindo seu tempo entre o trabalho, um cursinho de fotografia que tinha cismado de fazer, e a namoradinha da época. Mas mesmo assim não deixou de se encantar por ela, e ser também um dos bobos apaixonados com o coração partido quando ela foi embora. Mas sobrou tempo dele testar suas novas habilidades de fotografia com uma câmera que tinha acabado de comprar, tirando fotos das férias, dos dias de praia, e vez ou outra, dela.

Dois anos e um mês, e em uma viagem já muito esperada por ele, os dois se encontraram de novo no ultimo dia do carnaval de ouro preto. De tudo que tinha planejado para aquela viagem épica, nunca poderia imaginar encontrar, e ainda mais se apaixonar perdidamente por aquela, agora loira, garota de sempre. No primeiro momento, os olhares se cruzaram. Da mesma forma que ele sorriu ao ver aquele rosto guardado em sua memória, ela sorriu em retribuição. Dessa vez, tiveram um tempo de conversar, e por algumas horar riram de tudo. Da cerveja já quente naquela festinha da republica, dos outros participantes, mais bêbados que eles, se jogando na piscina e molhando todos em volta. Ela ainda riu quando ele falou da queda por ela naquele verão, e como acabou ocasionando o término do antigo namoro. E riu também quando ele segurou a cintura dela. Mas quando chegou o rosto mais perto, ela não se afastou. E quando ele a beijou, retribuiu.

Deu tempo pra mais uma foto, do celular, antes que a bateria acabasse. Mas ele não deixou por isso, arrumou papel e caneta para que ela anotasse seu numero antes de ir, e guardou no bolso com todo cuidado do mundo.

Quando chegou na casa onde estava, com vários colchões no chão, tendo que saltar sobre casais animados e amigos derrotados pelo álcool até achar seu carregador, abriu o papel que dizia:

"O tempo é ouro. Deixa o destino agir, é mais legal assim."

Percebeu que mesmo de cabelo pintado, aquela continuava sendo a morena que sumia com frequência deixando corações a deriva.

quarta-feira, 6 de abril de 2016

#94 -

Com o passar do tempo, fui ficando mal acostumado.

Todo mercado tem que ter caixa livre,
Toda rua tem que ter numeração correta,
Todo estabelecimento tem que ter w-fi,
Todo bar tem que ter um garçom que eu conheça pelo nome,
E todo lugar tem que ter você.

#93 -

Você me apareceu como um sopro num dia quente de verão, daqueles que tocam a pele assim que você chega em casa e senta na varanda pra ver o sol se por depois de um dia cansativo.

Naquele momento, era tudo que eu precisava.

E continuou acariciando delicadamente meu rosto, me deixando cada vez mais confortável e me fazendo esquecer dos problemas lá fora desse apartamento, que costumo fazer questão de convidar pra entrar.

Até que se tornou uma chuva tropical. Daquelas sem aviso, rápidas e intensas, que alaga ruas e faz barrancos virem abaixo. Assim como fez comigo.

Mas já é outono a nove dias, amor.
E nossa história ficou pra trás.

#92 -

Oi.
Ta tudo tão difícil aqui.
Ficou meio preto e branco, depois daquele seu tão claro ponto final.

Tô passando por uma barra por esses dias, e só queria um pouco do teu sorriso, e do que ele faz comigo.
Queria recostar no teu peito e me sentir segura, e que você me fizesse enxergar mais rápido que isso tudo vai passar.

E fico pensando no porquê de não ter te tido mais perto. Ter te mantido aqui, sempre do meu lado. Por vezes sei que sou meio truculenta, e também o quanto não é fácil pra mim demonstrar amor.
Mas juro que em muitos dias eu sabia que você era o cara certo pra mim. Como hoje, por exemplo.

Mas acima de tudo, queria te desrespeitar. Esquecer que concordei com sua loucura de não te procurar mais. Ir de surpresa e bater na porta da sua casa que só conheci por fotos. E se você não estiver, rodar a cidade até te encontrar e dizer que errei bastante e vou continuar errado. Mas se você topar, quero errar junto com você.

Mas me falta coragem. Coragem de me abrir. Coragem de arriscar me magoar. Coragem de arriscar te magoar...

Entao me contento em escrever, e talvez crer que por algum sexto, setimo ou oitavo sentido voce esteja ai, sabendo exatamente o que estou sentindo aqui. E sei que depois disso tudo vou amassar esse papel molhado de lágrimas, matar essa garrafa de vinho e amanhã acordar forte como só eu consigo fingir ser.

quarta-feira, 23 de março de 2016

#91

Maldita hora que entrou naquele bar.

Depois de ganhar cadeira cativa nos botecos de sempre, onde alternava entre cerveja, cachaça e feijão amigo, foi agradar um amigo e "conhecer um lugar melhor, que não seja pé sujo".

Teve como desculpa um aniversário. E como aliado uma banda de ótimo repertório. Entre um assunto e outro, não pode não reparar naquela magrela de cabelos negros que acompanhava discretamente todas as melhores musicas da noite.

Despretensiosamente se aproximou e perguntou o nome daquela música.

E assim, entre beijos intensos, caricias apaixonadas, banhos mal intencionados e noites quentes, a conversa se estendeu por algum tempo.

Mas no fim, estava ele de novo nos lugares de sempre, bebendo aquela cachaça de minas pra esquecer, sabendo que só fazia lembrar.

Ela chegou, deu boas recomendações musicais e foi embora deixando saudade. Tem gente que nem isso faz.

#90

- você tira o miolo do pão? - perguntou ela enquanto pegava a faca pra cortar o dela.

- aham - ele respondeu, pensando no quão estranha era aquela pergunta feita por uma desconhecida, antes de sua sagrada xícara de café, na primeira manhã da semana que ia passar descansando naquele hotel fazenda.

- e faz o que? Joga fora ou come depois com manteiga?

- eu jogo fora - respondeu sem ainda não entender nada do que estava acontecendo ali.

- você deve ter problema com gases né? Minha vó sempre disse que o miolo do pão da gases. Posso sentar com você?

Ele ficou sem reação. Ainda mais quando ela não esperou a resposta e sentou assim mesmo. Foi então que ele reparou como era bela.
Aquela manhã, a paisagem verde na janela, e o rosto dela, sem maquiagem, sorrindo enquanto o sol acariciava sua pele.

#89

- de onde você tira essas coisas que escreve? Tipo, qual sua inspiração? - ela perguntou enquanto recostava em seu peito e tinha os cabelos levemente afagados.

Ela sempre fazia umas perguntas estranhas no pós sexo. As vezes fazia até ele pensar se durante tudo aquilo, aquele furor inexplicável, aquela troca de gemidos, prazer, fluidos e tantas outras coisas, ela estava com a cabeça em outro lugar.. Mas nunca tinha feito uma pergunta tão difícil.

Difícil porque nem ele sabia a resposta. Não tinha certeza dos motivos ou porquês, até porque não tinha certeza de nada na vida. As vezes era uma situação, as vezes uma música, uma história que ouviu de alguém, ou algo que viveu com alguém.

Só sabia que tinha que ter sentimento. Tinha que tocar o coração. Tinha que ser algo pelo que valesse a pena escrever, e ao mesmo tempo algo quase impossível de descrever ao escrever.

Quando tal coisa vinha na cabeça, ele não sossegava até registrar. A história martelava em sua cabeça até ser posta no papel. Ele se via na história, e por escrevia como se estivesse lá, pra não dizer que se colocava algumas vezes no lugar dos personagens.

E depois de pensar tudo isso numa fração de segundos, respondeu:

- sei lá.

Porque ele queria curtir aquele momento sem grandes complicações. Só os dois ali, deitados nus no tapete da varanda, olhando pra lua através do teto de vidro, enquanto pensava que aquela noite, desde o mal entendido sobre o ponto de encontro, passando pelo cinema e depois o jantar feito por ele no apartamento novo semi-mobilidado, e que incluía tudo o que ela mais gostava gastronômicamente falando; daria um bom conto.

#88

"Como a cidade eh tranquila dessa varanda". - fazia de tudo pra se distrair, mesmo mentindo para si mesmo enquanto ouvia buzinas e via o movimento normal de uma cidade litorânea no verão.

Mas, parando pra analisar, tinha um pouco de razão. Quando entrou pela porta da nova morada, deixou pra trás os problemas cotidianos, toda a cobrança e motivos de aflição, e ficou em paz.

Ali dentro ele só queria imaginar o futuro. O quanto ainda haveria de lutar, os obstáculos que deveria contornar, e tudo que a vida reservava para que todos os seus dias fossem tranquilos quanto aquela música de Cícero que tocava no spotify.

Sempre lhe disseram que não custa sonhar, mas ele já aprendeu que o preço eh alto.

#87

Podia não admitir, mas morria de saudade.

Era tão normal estar com ele, mesmo que não fisicamente, que aquele tempo "longe" a corroíam por dentro e deixava um vazio nos seus dias.

Não sabia porque não se entregava de vez. Seria o pavor da possível cobrança? Seria o fato de que nada vem dado certo ao ponto de não valer a pena criar expectativa nenhuma? Seria a pulga atrás da orelha sobre o sexo ser bom ou ruim? Ou até mesmo a lembrança das palavras dele, de que não tínhamos nada pra dar certo?

E cheia de dúvidas não demonstrava interesse, não demonstrava carinho, não demonstrava curiosidade, não demonstrava amor, não demonstrava nada. Não via um bom motivo pra se entregar assim.

Mas não percebia que aquela procura discreta, numa noite qualquer, depois de dias que ele não puxava assunto, demonstrava mais do que tudo que pudesse dizer.

#86

Naquele dia 31, ela estava tão linda quanto o normal.

Mas talvez fosse a saudade, já que ela morava longe e não podia estar com ele antes por conta do trabalho; talvez fosse a casa pequena com mil parentes nessa época de virada de ano que não lhe davam privacidade nenhuma, ou até aquele vestido listrado preto e branco decotado, que realçava todas as melhores curvas do seu corpo, mas ele sabia que naquele dia a desejava como nunca.

Quando chegou em casa pra se arrumar, ela já estava pronta, e, abobalhado, a primeira coisa que conseguiu dizer foi: "como você está gostosa hoje". Tomou banho pensando mil coisas, mas não tinha imaginação suficiente pra prever o que viria.

As carícias começaram no corredor, e esquentaram no elevador sem preocupação nenhuma com o novo sistema de câmera que talvez até tenha substituído aquela câmera que ele sabia ser falsa, por uma de verdade. Já era impossível esconder seu tesão, evidenciado pela bermuda branca que marcava seu pau sem pudor algum.

Ele sabe eh que quando saíram, ao invés de pegar o caminho pra portaria, fizeram o inverso, direto pro banheiro social. E lá dentro, tudo ficou de lado. As promessas de ano novo, o make-up, o vestido listrado e a cueca da sorte. Aquele banheiro nunca teve um mix de amor e prazer tão intenso em seu pouco espaço interno.

Gozaram junto com os primeiros fogos da festa de virada. Nunca foi tão bom perder a entrada de ano. E pros que dizem dar azar, afirmam que nunca começaram um ano tão bem.

#85

Ele não podia mentir, ela o ganhou pelo cheiro.
Ficou encantado com aquele aroma suave que o acompanhou pelo resto da noite, depois dos dois beijinhos ao cumprimenta-la.

Depois, de longe, se apaixonou pelo olhar. Ele de um lado da mesa, ela de outro, mas em meio a conversas cruzadas entre os mais de dez integrantes daquele happy hour, também se cruzavam os olhares, vez ou outra.

Por ultimo, o sorriso. Só riso. Através dele, ela emanava alegria e embriagava o coração daquele moço já meio alto de cerveja e umas doses de cachaça. E ele já nem sabia em quem colocar a culpa por estar nas nuvens. Seria a bebida, ou seria ela?

Essa situação se repetiu por algumas vezes espaçadas, quando calhavam de se encontrar e sentar na mesma mesa de bar, onde ele pode também reparar em todas as curvas do seu corpo, desde aquele piercing no septo e nas coxas grossas quase sempre aparentes.

Pode também conhecer melhor a personalidade forte e cheia de vida, além do humor atípico, daquela morena que sempre andava acompanhada de um cigarro de menta. E só pensava em quantos problemas valeria a pena se meter por conta dela.

Mas naquele dia quente de verão, chegou em casa com a cabeça flutuando, sem saber se os olhares dela foram reais ou imaginados. Só sabia de uma coisa, ainda sentia aquele perfume.