quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

#72 - deixa.

Enquanto pagava a conta do bar, percebeu mais uma vez que precisava de uma carteira nova.
Aquela velha, surrada, que já estava com ele a longos anos e tinha vivido muitas histórias, não se aguentava mais, e por vezes se desfazia ao abrir.

"- Crédito ou débito? - perguntou o garçon?
- Coloca no crédito que depois a gente resolve."

E viu que tudo era assim em sua vida.
Depois a gente resolve. Se era difícil achar a carteira ideal, daquelas que coubesse todos os cartões, identidade, o (pouco) dinheiro, que fosse compacta e não incomodasse quando no bolso, imagina o tal do amor.

Deixa pra depois..

#71 -

O dia só estava começando.
Pouco mais de sete da manha, e ele dava andamento ao seu ritual matinal.
Saiu do banho ainda de toalha, fez seu café preto extra-forte, sentou a mesa de trabalho, e conseguiu apoiar a xícara entre os rascunhos imperfeitos de mais um livro sem certeza de ser publicado e a taça de vinho que ainda tinha os resquícios da "não inspiração" na noite anterior.

Pegou o cigarro, e antes de acender olhou pela janela do apartamento antigo e viu que seria mais um dia quente de verão no rio de janeiro, e lembrou que deveria logo consertar aquele ventilador que estava girando tão rápido quanto os ventiladores de repartição publica, e pensou que deveria parar de beber se quisesse terminar a tempo aquela tradução de mais um livro romântico que não era o dele. Enquanto levava o cigarro a boca, a campainha tocou.

Ela estava decididamente indecisa, e ele podia ver isso em seu olhar. Sem nem entrar pela porta, da qual não precisava de convite visto o quanto aqueles metros quadrados de Copacabana conheciam ela por inteiro. Antes mesmo do bom dia, despejou todos os medos que acumulava sem motivo desde os dias anteriores. Ele ouviu pacientemente, mas só conseguia pensar que ela tinha escolhido a roupa errada para aquela conversa. Ou não.

Enquanto ela falava, lembrava do dia em que a conheceu. Naquele uniforme. Aquela saia preta larga, pouco acima do joelho, unida daquela blusa social azul de finas listras verticais brancas, com manga 3/4. Caíram perfeitamente no corpo da nova secretária da editora. E desde o primeiro momento ele só pensava em tira-las. Hoje não era diferente.

Antes mesmo dela terminar seus argumentos um tanto quanto malucos, ele a puxou enquanto empurrava a porta, a colocou contra a parede e sem sequer deixa-la reagir, beijou-a como se fosse o ultimo beijo. Rolaram mais um pouco até a ponta da mesa, empurraram os papeis o suficiente apenas pra que tivesse lugar pra ela, sentada, de frente pra ele.

Enquanto a toalha caia e os beijos não cessavam, tirou-lhe a blusa sem o menor cuidado, jurando inclusive que tinha arrebentado alguns botões. Levantou sua saia o suficiente para colocar a lingerie rendada de lado, e ali, mais uma vez, foram um.
E não só ali, como também no sofá enquanto lhe puxava o cabelo e observava aqueles furinhos nas costas do qual ela tinha tanta desconfiança e ele amava. E também no chão da sala, enquanto a segurava firmemente pela cintura e via o suor lhe escolher do rosto, pelos seios, até se perder entre o vai e vem que lhe tirava a concentração.

Como numa cena de filme, estavam os dois ali, sobre o tapete, abraçados. Suados e sem se importar com isso, roupas jogadas pelo assoalho, olhando pro ventilador que nem de longe ajudou a cessar o incêndio que aquelas paredes acabaram de presenciar, enquanto o café, já frio, esperava e o tempo passava.

No fim, foram juntos para o banho, rindo de como tudo aquilo começou, sorriso no rosto que duraria o resto do dia, e a duvida se em meio a tanto tesão, haviam sequer encostado a porta da entrada.

#70 -

Olhando pra ele, tão vidrado na tela da tv enquanto passava a final do campeonato que nem via o mundo a sua volta, percebia o quão sortuda era.

Já tinham passado por alguns altos e baixos, confessa. Tambem em tantos anos de relacionamento, quem não passaria? Começaram cedo, e cedo partiram juntos pra conhecer o mundo. E com o mundo, conheceram o melhor e o pior um do outro.

Ele, não fazia planos sem ela. O cara mais inteligente, mais batalhador, mais dedicado, responsável e um infinito de bons adjetivos. Claro, tinha um defeitinho aqui, outro ali. Mas ela já tinha certeza que seria o homem da sua vida desde o momento que se conheceram.

Ela, sentia falta de emoção. Botava a culpa no tempo, botava a culpa no signo, botava a culpa no caralho que fosse (sim, também era desbocada), mas havia de reclamar da mesmice. Por mais que nunca tenha se dedicado pouco, amado pouco, tentado pouco, respeitado pouco.. Pelo contrário, tudo o que sentia por ele era muito, e era pra sempre.

E as vezes batia uma louca na cabeça dela, um olhar mais interessado, um flerte aqui, uma conversa no pé do ouvido ali, algo que fazia ela aumentar drasticamente  o numero de cigarros fumados, ou exigir mais que o normal a presença dos amigos mais queridos (e das cervejas que os acompanhavam).

Mas tudo levava a esse momento. Ela olhando pra ele, admirada, arrependida até de ter imaginado sua vida sem ele. E ali, com ele ainda vidrado, com aquela camisa preta e o boné que mesmo sendo novidade tinha lhe caído como uma luva, percebia novamente o quão sortuda era, e que não existe emoção maior do que estar dia após dia ao lado do melhor homem do mundo.

E assim, de uma forma imperfeita, os dois se bastavam.

#69 -

Estava sozinha.
Apesar de todos os amigos na mesa, alguns conhecidos espalhados no bar, e as belas (e exaltadas) senhoras aproveitando o samba de raiz, estava sozinha.
Era como sempre se sentia aos domingos, animados ou não, em casa ou no point mais agitado da cidade. Enquanto muitos odeiam a segunda, eh no domingo, dia de reflexão, que ela encontra consigo mesma, e percebe quão desencontrada anda a própria vida. Mesmo assim exibe sorrisos falsos entre um cigarro e outro, uma gole na cerveja enquanto percebe e dispensa olhares dos caras mais cobiçados do lugar.
Ela nem queria estar ali, ela so queria estar deitada no peito de quem não pode.

#68 -

Nunca gostou de extremos. E sentado naquela mesa de bar, não se decidia se queria a doçura da caipirinha ou o amargor da cachaça mineira ouro, envelhecida em tonel de carvalho. Assim como não decidia pelo jeito carinhoso da ruivinha que ele sabia que ia ia faze-lo feliz a todo custo, ou pelo olhar da morena pela qual seu coração batia mais forte. Na dúvida, ficou com a loira gelada. Ou melhor: com a loira, e com a gelada.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

#67 - te gamo

Oi, sou eu.
Você deve estar em reunião de novo ne? Sei que ta tudo meio corrido aí hoje, e que você vai pra casa só bem tarde.
Mas pode deixar, já passei no mercado e comprei aquele vinho tinto que bebemos na casa da Bruna e você gostou, lembra?

E nada de pizza hoje. Comprei tudo fresquinho pra fazer o talharim com molho pesto que você gosta. Hoje bateu vontade de cozinhar pra te ver feliz. Depois te mando uma foto sujo de farinha pra você rir atoa por ai.

Ah, não preciso lembrar que a sujeira você que vai limpar ne? Mas só amanhã, porque depois do jantar pensei em enxer a banheira. Faz tempo que a gente não tem um tempo só nosso, e mesmo te vendo todo dia to morrendo de saudades de você.

Enfim, eh isso, liguei só pra avisar que hoje você não tem que se preocupar com nada.

Vem logo pra casa, que quando chegar, te gamo.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

#66 - I coffee you

Mais uma vez acordou meio atrasado. Sentou na cama ainda de samba cancao, como que esperando os olhos abrirem enquanto pensava nas tanta coisa pra resolver no escritório, e que, mesmo chegando antes do horário naquela quarta feira de outono, não tinha certeza se saia a tempo de ver o futebol com os amigos no bar da esquina. Hoje a partida era as 7 e tanta e ele odiava quando isso acontecia. - "Jogo do mengao tinha que ser sempre em horário nobre, oras." - E pensando nisso, balançou a cabeça e resolveu espantar a preguiça com um belo banho.

Na verdade nem reparou nela, ali do lado. Não era falta de amor, não era falta de tesão, até porque a noite anterior tinha deixado isso bem claro, era só mesmo o cotidiano já entranhado nos dois.

20 minutos de banho, depois mais 5 entre esfregar o espelho embaçado pra se enxergar e escovar os dentes fazendo caretas, até sentir o aroma do café. Café, o que faltava pra despertar. Colocou a toalha na cintura, e saiu atrás daquele cheiro, e do amor por trás daquele cheiro.

Por mais rotineiro que fosse, ele nunca cansava de agradecer por, dia após dia, espantar a preguiça com aquele café forte, feito por aquela moleca só de calcinha e que nunca perdeu a mania de usar as blusas dele de pijama.

E era ali, na varanda de vidro que sempre sonharam, com aquela vista do sol nascendo ao lado do unico morro que contrastava com os prédios da cidade, e o jardim vertical que cultivavam desde a primeira semana naquele apartamento, que ele ficava sem palavras para descrever a simbologia daquele café, e o quão importante era tudo aquilo, rotineiramente, como a melhor parte da sua vida.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

#65 - Guardo?

Vi um pássaro, escrevi um conto.
Ouvi aquela musica, me veio história na cabeça.
Tomei um café, mais um parágrafo.
Fumei um cigarro, e até que isso pode dar uma crônica.
Tomei mais um gole, pensei num poema.
Beijei você, já quis de novo escrever.

Não guardo palavras, assim como não guardo amor.

#64 - Quero mais.

Quero mais é boteco, uma mesa pra dois, 
uma playlist da boa,
e a noite toda me embriagar com doses fortes de você.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

#62 - Detalhes

Estavam aqui, mas sumiram.
A tanto tempo que nem me lembro como, quando ou porque.
Talvez juntos das palavras bonitas, dos tais ornamentos literários.
Possivelmente de mãos dadas aos bonitos sinônimos,
ou ao "não sei o que" de ligação que mal me lembro o nome.
Triste fico, por fazerem tanta falta.
Porem esperançoso de que voltem os pequenos detalhes
para florear as minhas, hoje, secas frases.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

#61 - Bate.

Tudo nos trouxe até aqui. Tudo.
E daqui, só Deus sabe onde vamos chegar.

Só sei que to perdido. Sim, perdido. Perdido em você.
Talvez se perder seja bom, não é?
Você sempre diz pra não planejar muito, pra deixar acontecer, que pode até ser melhor. Será melhor?

Só sei que eu queria planejar que em meus dias, sempre tivesse você.
O resto da vida, você.
Acabar com essa minha sandice de pensar em você longe de mim.
Parar de pensar que da minha pessoa, você só quer distância.

Mas você faz de mim insegurança.
Faz e nem percebe. Ou será que percebe?
E se percebe, faz porque percebe?
O que quer de mim, afinal?

No fim, fico eu, sozinho.
Ouvindo as musicas que ouvimos juntos.
Pensando no que sempre domina nossos assuntos.
Imaginando as mesmas loucuras imaginadas numa noite qualquer.
E as vezes, só as vezes, lembrando seu beijo calmo, que calmamente sempre encaixou no meu.
E bate vontade.
E Bate saudade.



segunda-feira, 19 de outubro de 2015

#60 - Triste é não sentir nada.

Ele nunca quis "NADA".
Que não seja espetacular, que seja morno, que seja até platônico, mas que seja.
Mesmo assim já se viu certa vez preso a letra de Arnaldo Antunes, quase que implorando "uma emoção pequena, qualquer coisa, qualquer coisa que se sinta!".
E sentiu.

Tudo coloriu. E se ele fosse comprar pão, até quem o visse iria perceber.
Que ele a encontrou? Não sei. Mas que ele esta feliz. Que depois de uma maré (e que maré) de azar, as coisas começaram a dar, um pouquinho que seja, certo. E o ano que ele pensava estar perdido, nos 35 do segundo tempo (porque também não quero exagerar no drama), começou a dar uma virada.

E por querer sentir é que ele agora se entrega.
Que não seja o que ele esperava, que seja meio sozinho, que ele até quebre a cara, mas que se sinta.
E sinto muito pra quem se incomoda, mas ele quer todo o sentimento do mundo.

Porque ele nunca quis "NADA", e nada vai fazer que ele desista de se sentir vivo.

#59 -


domingo, 11 de outubro de 2015

#58 - Anota ai.

Tinha feito de tudo pra te encontrar,
Te procurei aqui e ali, andava a esmo, arriscava lugares novos, mas foi mesmo, no mesmo lugar de sempre, que acidentalmente nos esbarramos, do jeito que o destino quis.

- Oi. - Falei
- Oi.
- Tudo bem?
- Tudo bem !
- Tá sozinha? Então fica com a gente.

Papo vai, papo vem, e era tudo o que eu queria. Era a desculpa que me faltava pra eu me aproximar, pra você me perceber. Prestei atenção em tudo que você falava, porque tudo o que vem de você me interessa demais. Confesso que as vezes me distraia com seu sorriso, as vezes me pensava beijando sua boca, e as vezes ficava preso nos seus olhos. E que olhos. Na verdade acho que eles me prenderam desde a primeira vez.

- Tem insta? - Ela perguntou
- Tenho, mas nem uso.
- Ah, qual é? Vou te seguir, mas é pra seguir de volta hein, senão eu deixo de seguir.
- Haha, claro, procura ai:

E ja tinha me perdido nos seus olhos de novo. Desculpa, mas acho que vai acontecer sempre. E desculpa de novo, mas eu quero muito você pra mim. Você fala, fala, e eu vejo a pessoa que vai comigo pra um lounge, beber um vinho safra ruim e conversar sobre a tv, parafraseando Gadú.
Eu jamais poderia terminar a noite sem um laço com você, um jeito de te ter por perto, de te achar quando eu quiser, de te conhecer ainda mais, te conhecer o quanto quero te conhecer. Não podia mais esperar:

- Me passa seu numero?
- Claro.. me da seu telefone, deixa eu anotar... Pronto.
- Tá bom, te mandei um whatsapp, salva meu numero.
- To salvando.. Registro como o seu nome?
- Anota ai, "O Amor da sua vida."


quinta-feira, 17 de setembro de 2015

#57 - Alto.

Chegou em casa meio alto.
Não sabia bem se era culpa da mistura de cachaça docinha e cerveja, ou se era culpa dela.
Ele andava pensando muito nela, se desligava do mundo, e sem que soubesse explicar, acordava nas nuvens. Era o tipo de "amor platônico" que fazia o mundo dele mais dolorido, e por isso, bonito.

Nunca soube o porque, mas gostava daquela dor. Talvez porque a dor o fizesse pensar em outra coisa que não o momento ruim em que se encontrava. E como ele só pensava nela, não tem espaço pro resto nesse texto.

Dentre suas muitas teorias mirabolantes sobre o encontro dos dois, sem data marcada e nem mesmo certeza de que aconteceria, as vezes pensava se não era melhor deixar assim, deixar no "se". Quantos amores não deixaram de ser amor depois de se conhecer melhor? E se ele perdesse aquela imagem da mulher perfeita depois dos primeiros cinco minutos de conversa? Ou depois do primeiro beijo? Ou depois do primeiro banho a luz de velas? Ou depois da primeira noite de amor?

Mas... e se não perdesse?
E se não perdesse mesmo depois do primeiro carnaval? E se ele tivesse aquela vontade surreal de encontra-la pra resolver as coisas depois da primeira briga séria? E se ainda estivesse com frio na barriga na hora de pedir em namoro, mesmo depois das amigas garantirem que ela estava mesmo afim? E se eles fossem um novo "cajout"? E se ela for realmente a mulher da vida dele?

Enquanto isso, começa a tocar "Nem tchum", e ele acha que talvez a vida até que tenha senso de humor. "Olha" - pensou - "Já estou nas nuvens de novo..."

Será que é a cachaça e a cerveja? Ou será que é culpa dela?


quarta-feira, 15 de abril de 2015

#56 - Ta tudo indo bem.

Primeira vez que posto pelo celular. Deve ate ser um texto curto.. Nunca escondi de ninguém o quanto passo raiva digitando por aqui.

Novos meios de postar, novos tempos, novas duvidas e temores.

E outras novidades também. Deixei a barba crescer, fiz minha primeira tatuagem, morando mais sozinho do que em casa, ando fumando mais do que socialmente, me estressando mais do que normalmente.. Mas não adianta reclamar, porque afinal, tudo vai bem, e nada fora do normal ou esperado.

Só que dizem por ai que certas coisas nunca mudam... E espero que mudem. Ou que não mudem.